Prefeitura quer transformar postos de gasolina da orla de Copacabana em calçadão
terça-feira, 8 de maio de 2012As áreas dos cinco postos de gasolina da Avenida Atlântica, em Copacabana, que serão fechados por decisão do governador Sérgio Cabral serão usadas na ampliação do calçamento do canteiro central. Quem afirma é o prefeito Eduardo Paes, já que os terrenos serão repassados ao município, como informou o governo do estado. Pelo comunicado da Petrobras Distribuidora enviado aos estabelecimentos (que usam a bandeira BR), o prazo de encerramento vai até o dia 6 de junho.
Moradores do bairro são contra a medida, e, desde quinta-feira, divulgam um abaixo-assinado online para que as bombas de combustível continuem na orla.O Sindicato de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência do município do Rio (Sindcomb) disse na semana passada que os revendedores entrarão na Justiça contra a decisão do governo. Em 2007, a prefeitura tentou cassar o alvará dos postos, que, no entanto, conseguiram uma liminar, garantindo a sua permanência. No próximo dia 15, o assunto será tema de uma audiência pública na Alerj, às 14h.
O estado alega que o fim da atividade na Avenida Atlântica foi motivado por razões estéticas e pelo grande interesse turístico da região. Segundo o governo, foi fechado um acordo com a BR, que pediu para que fossem mantidos os três postos da orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, que faziam parte da lista inicial do estado. Por e-mail, o governo afirma que “foi levada em conta a necessidade de postos para atender a região da Zona Sul como um todo”. Nos cálculos do Sindcomb, nos últimos dois anos, a Zona Sul perdeu 15 postos para o mercado imobiliário, contando hoje com apenas entre 15 e 18 unidades.
– Nós, os supostos beneficiados dessa decisão, somos contra o fechamento dos postos – reclama o presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães. – Aquele calçadão é para ser como ele é. Ele é tombado. Se os postos saírem, terá que ser feita a recomposição do calçamento de acordo com o projeto original do Burle Marx (paisagista que redesenhou o calçadão nos anos 70).
Moradores do bairro dizem que a desativação dos estabelecimentos afetará a concorrência – restarão apenas dois postos no bairro (na Praça Cardeal Arcoverde e na Rua Francisco Otaviano) -, os ciclistas que utilizam os locais para calibrar pneus e quem precisa abastecer em Copacabana, como motoristas que vêm de outras partes da cidade em direção ao bairro do Centro do Rj pela manhã. Outro argumento é o de que os postos já estão incorporados à paisagem.
– Sou contra. Os postos estão acabando na Zona Sul. Daqui a pouco onde vamos conseguir abastecer? E eles dão segurança às pessoas que circulam pela orla, pois funcionam 24 horas – opina o arquiteto Francisco Xavier, morador do bairro, que ontem utilizava o posto em frente à Rua Hilário de Gouveia para encher os pneus da bicicletinha da neta Maria Clara, de 6 anos.
– Estou brincando de abastecer – contava a criança, próxima a outras que aproveitavam uma parte do posto que é fechada aos domingos para pedalar e andar de skate.
A turismóloga Tatiane Pinheiro, também moradora do bairro, se surpreendeu ontem ao saber dos planos do governo:
– Isso é um absurdo. Até para quem utiliza a orla como área de lazer, e os postos para encher os pneus das bicicletas. Tirando os postos daqui, o mais próximo para mim será o da Praia de Botafogo, que é inviável – avaliou Tatiane, que ontem calibrava os pneus da sua bicicleta no posto do Leme.
Funcionários do estabelecimentos não foram ainda comunicados oficialmente da desativação, mas estão preocupados. Os cinco postos geram cerca de 200 empregos.
– É uma lástima fechar os postos. Eles também servem como referência para turistas que chegam a Copacabana e precisam de informação – destaca o subgerente do Posto Hilário de Gouveia, Renato Nascimento.
O prefeito não dá detalhes sobre o futuro dos espaços, mas revela que a ideia é valorizar a paisagem, “sem nada que polua”:
– Essas áreas serão a extensão do calçadão. Queremos manter a paisagem limpa e valorizar ainda mais a beleza da orla.
O administrador de empresas e ambientalista Cláudio d´Ávila, que adotou os canteiros centrais da orla de Copacabana, já tem ideias para os terrenos dos postos. O projeto, de acordo com ele, será entregue ao governador amanhã e discutido com a prefeitura. Ele adianta que a proposta irá respeitar o trabalho de Burle Marx, que batizará os canteiros:
– O projeto terá lounges para as pessoas sentarem, com espreguiçadeiras e um ambiente para relaxar o público, o morador de Copacabana e quem trabalha no bairro – afirma D´Ávila, acrescentando que pretende inaugurar os espaços antes da Rio+20 e promover nos locais apresentações culturais.
O GLOBO também ouviu especialistas sobre o fim da atividade na orla e o futuro dos espaços. Consultor e doutor em urbanismo, Carlos Fernando de Andrade, ex-superintendente do Iphan, lembra que o Aterro também tem postos desde o seu projeto original. Mas, havendo o fechamento, ele propõe que sejam implantados corredores exclusivos para ônibus na Avenida Atlântica e terminais de passageiros:
– Proponho estações de passageiros no lugar dos postos, criando um corredor para o transporte público e não para o transporte privado.
O paisagista Robério Dias, ex-diretor do Sítio Roberto Burle Marx, sugere a ampliação e a recuperação do calçadão, seguindo o espírito do projeto original, e a criação de estacionamentos subterrâneos, com entradas discretas.
– Em termos paisagísticos a orla melhora sem os postos. Mas cada vez mais vamos ficando sem eles. No Leblon só restou um – comenta Robério, que mora no Leblon.
Para o arquiteto e urbanista Augusto Ivan, ex-secretário municipal de Urbanismo, os estabelecimentos de gasolina da orla prestam um serviço importante na Zona Sul, onde são cada vez mais raros. Mas, caso sejam realmente removidos, ele diz que a opção é mesmo unir os terrenos ao calçamento.
– Eu refaria a calçada, e não colocaria mais nada. Quanto menos coisas se põe entre a praia e os prédios mais aparecem a curva da orla, a areia da praia e o mar. Neste caso, defendo uma solução minimalista – afirma Ivan, que acompanhou de dentro da prefeitura (na Secretaria de Obras) a transformação da orla nos anos 70. – O calçadão central foi projetado (por Burle Marx), nos anos 70, já com as áreas dos postos. Eles são da mesma época.
O arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti questiona o encerramento da atividade:
– Paris tem bombas na calçada. E ali é um centro de duas pistas, não se pode fazer nada no lugar. A utilização pelos pedestres é perigosa e, se transformarem em calçada, passará a ter camelôs.
Sem explicar os termos da negociação com a BR, o governo do estado informou, por e-mail, que o acordo com a distribuidora não envolve a troca de terrenos. A Petrobras Distribuidora, em nota, afirma apenas que continua negociando com o estado um acordo sobre os postos.
Fonte: Portal Yahoo
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